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Multidões

           Eu adoro multidões. São uma das coisas que faz a minha vida valer a pena, quando são aquelas multidões em que todos partilham a mesma alma, o mesmo espírito, a mesma alegria de um acontecimento. Sejam multidões de desconhecidos, sejam multidões, não tão vastas, de amigos. A energia de um conjunto de indivíduos é eletrizante: quantas ideias confluem nesse só instante a um local tão restrito do espaço? As mais diversas vidas, infâncias, objetivos estão ali misturados, à distância de um toque mas a um universo de as poder sequer chegar a ouvir. Esse é o segredo, essa é a beleza fantástica das multidões - que só se murmura a quem estiver disposto a sentir.   Acho que esta adoração de multidões é também um dos motivos de eu ter um amor ardente por festivais. Claro que a música, os artistas são a fonte principal do interesse; mas a verdade é que nenhum concerto, por melhores que sejam os músicos em palco, pode ser extraordinário sem a dedicação de um bom público. E

Amicae

“Se tocamos uma nota estamos a dar algo ao mundo; se pomos essa nota em 'reverse', estamos a tirar algo ao mundo.”   Era a luz de fim de tarde a iluminar uma cara minha familiar de longos anos. O rosto de um alguém amigo, compreensível, ouvinte, humorista - mas um rosto sofredor, lutador, perdido na maré brusca do psicológico desnorteado.   São assim tardes que não se recontam. Não são partilhadas com terceiros por serem feitas de conversas dialogadas na eternidade do momento - são para sempre na minha mente, espero que também na tua. São um querer conhecer, um querer saber; a curiosidade inata, espontânea, e devoradora do ser humano levada à busca do entendimento em palavras pensadas mútuas. É a vulnerabilidade de nos expormos impávidos, mas com tangível receio, e criarmos assim novas pontes de uma amizade com já incríveis fundações. Momentos destes - quero-os imensamente, são da minha alma a ânsia mais profunda e incontida, porque conversar é tentar

Tempo, Ano, Medo

2018 prepara-se para nos dar as boas-vindas: precipitamo-nos a entrar no novo ano, escorregamos, sem controlo da rapidez, nesta loucura imparável que é o tempo. Tudo passa tão rápido; sei que reconheço cada vez mais isso. Este será, para mim e para muitos outros, o ano em que farei 18 anos. O ano em que acabarei o ensino secundário, em que deixarei para trás o ensino obrigatório e, assim, deixarei também de percorrer um caminho que me foi traçado e definido por um conjuntos de outros, invisíveis, distantes, impossíveis de conhecer totalmente. Todos os anos aprendi matérias, tive professores, li livros, sem que tenha sido eu a escolher - porque eu e todos fomos obrigados pelo governo, pelo sistema em que crescemos. 12 anos da nossa existência passaram-se assim e agora, pela primeira vez, estaremos livres de tudo isso. Claro, não é uma liberdade total (em boa medida, nem sei o que isso significa), mas será, de certo modo, uma maneira de nos sentirmos mais nós pró