Multidões


           Eu adoro multidões. São uma das coisas que faz a minha vida valer a pena, quando são aquelas multidões em que todos partilham a mesma alma, o mesmo espírito, a mesma alegria de um acontecimento. Sejam multidões de desconhecidos, sejam multidões, não tão vastas, de amigos. A energia de um conjunto de indivíduos é eletrizante: quantas ideias confluem nesse só instante a um local tão restrito do espaço? As mais diversas vidas, infâncias, objetivos estão ali misturados, à distância de um toque mas a um universo de as poder sequer chegar a ouvir. Esse é o segredo, essa é a beleza fantástica das multidões - que só se murmura a quem estiver disposto a sentir.

  Acho que esta adoração de multidões é também um dos motivos de eu ter um amor ardente por festivais. Claro que a música, os artistas são a fonte principal do interesse; mas a verdade é que nenhum concerto, por melhores que sejam os músicos em palco, pode ser extraordinário sem a dedicação de um bom público. E uma boa plateia nunca é mais importante que num festival, onde frequentemente se passam longas horas com os vizinhos do lado, horas que esgotam a tarde e se espalham noite dentro. Os vizinhos podem ser um casal apaixonado, que fervorosamente acompanha as palavras cantadas pelo vocalista aos saltos; ou podem ser um grupo de amigos que dança alegremente, sem preocupações do que está à volta, ao som de uma batida mexida; ou até um estrangeiro animado, que nos contagia com a sua maluquice e põe todo um grupo em sintonia. Podem ser aqueles que te vão entornar cerveja para cima ou aqueles que se riem contigo. Podem ser os que furam ou podem ser os fãs mais empenhados. Podem ser tudo, e, com sorte, serão os que vivem pela música. Mas, nunca se sabe: as possibilidades parecem ser infinitas - e isso, a diversidade do ser humano, nunca deixará de me espantar.

  Um grupo de amigos sentados em roda, unidos por uma refeição ou simplesmente pelo prazer da companhia, ora isso sim é de valor. As conversas destrocadas, opiniões batalhadas, gostos questionados - tudo em riste numa complexa união. As gargalhadas partilhadas e os risos sonoros, evidência sem questão de uma tarde bem passada, alegram o espírito, aliviam a mente. Porque o que será a vida sem a comédia, a mais pura de todas as comédias: o que aconteceria sem as piadas que são partilhadas pela vivência dos anos e pelas circunstâncias que se criam nos vários momentos juntos? 

F.A.

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